ANÁLISE SEMIÓTICA DO SITE JODI
Luisa Paraguai Donati



INTRODUÇÃO

Este trabalho se coloca como uma análise e reflexão das "mensagens", como processos de significação, que são produzidas e veiculadas na WWW (World Wide Web) ou simplesmente Web, abordando os conceitos da Semiótica formulada por Peirce.

Nesta produção em redes de computadores, é importante ressaltar um conceito elaborado por sua própria estrutura interna enquanto uma forma de trabalho, procedimentos, comportamentos, uma ação/pensamento em um contexto partilhado com a possibilidade de interação pelos usuários. Esta estrutura interna atua como uma matriz técnica que transporta e organiza informações numéricas através de linguagens de programação, ao mesmo tempo que atualiza e veicula as "mensagens" com características imagéticas, textuais e sonoras, carregadas de simbolismo. (PRADO,1994: 42)

As redes de computadores tornaram-se, portanto, com a evolução dos sistemas de comunicação e as novas possibilidades tecnológicas da informática, capazes de estruturar um espaço e uma forma como estas "informações" produzidas e/ou simplesmente transmitidas neste meio, são atualizadas, apreendidas e manipuladas pelos usuários.

A Metodologia de Análise Semiótica é a ferramenta capaz de apontar no signo escolhido os elementos trabalhados na representação, sua relação com o objeto e os seus significados. Inicialmente uma descrição dos elementos identificados: Signo, Objeto e Interpretante, e uma posterior análise nos Níveis Sintático (domínio da informação estética, onde suas características materiais, formas e meios emprestam singularidade ao signo), Semântico (domínio da informação semântica pois trabalha com as articulações/relações do signo com o referente, apesar de ancorado no nível sintático) e Pragmático (domínio do significado na produção de sentido e significado para o usuário).

1. ELEMENTOS DA ANÁLISE SEMIÓTICA

Signo

É um elemento de representação de algo exterior, a ele próprio, isto é, o objeto dinâmico. O signo pressupõe uma relação redutiva com o objeto, pois não fornece toda a informação, apenas alguma abordagem sobre este. O signo escolhido é o site JODI, cujo endereço eletrônico é: http://www.jodi.org/.

As atualizações e modificações das informações neste meio tecnológico ocorrem com freqüência e podem gerar mudanças significativas, desta maneira informar com precisão a data em que a obra foi veiculada inicialmente não tem mais sentido. O que aparece em muitos sites é a informação da data da última atualização ou a indicação do período que ocorrem. O mesmo pode acontecer com a questão da autoria, em um site muitas vezes não fica explícito o nome do autor, mas apenas a indicação de um outro endereço eletrônico para contato ou sugestões.


Objeto Dinâmico ou Referente

É aquilo que o signo representa; o referente/objeto pode ser único ou não, real, fictício ou até mesmo ser criado pelo próprio signo. O objeto dinâmico é o meio tecnológico eletrônico, o virtual, as redes de comunicação, a Web, o próprio código de construção do meio, equipamentos médicos eletrônicos, o suporte informático e suas interfaces como o monitor, hardwares, softwares, modem, impressora, cartões eletrônicos, mouse, chips, entre outros.

Objeto Imediato

É como o objeto está representado pelo signo, valendo-se de suas características materiais; desta maneira a qualidade desta representação varia com o meio/suporte utilizado.

O objeto imediato é a abordagem específica adotada pelo autor neste site. O site é um produto multimídia com características hipertextuais, isto é, possuem links, conexões que se organizam segundo um fluxograma em estruturas verticais e horizontais. Um produto multimídia é gerenciado pelo computador de forma a coordenar amigavelmente imagens sintéticas, sons, textos, gráficos, desenhos, fotografias, vídeos, com possibilidades de interação e manipulação pelos usuários. (PLAZA,1996).

O site em questão circula na Web e coloca-se como uma experimentação das características do suporte tecnológico, de novas relações ao trabalhar com seus próprios códigos, com as possibilidades de configurações das páginas e com os processos de construção, veiculação e atualização das mensagens no contexto das redes de computadores.

Fundamento do Signo

É a idéia que destaca algumas qualidades do objeto dinâmico e as associa na representação exercida pelo signo.
Este site trabalha com as idéias de movimento, fluxo contínuo, transformação, simultaneidade, desdobramento, multiplicidade, ruptura, caos, apagamento e destruição do espaço, da direção, da linearidade, do sentido/função.

Interpretante Imediato

É a composição poética, expressa pelo autor, dos processos e procedimentos de construção e características funcionais da estrutura das páginas deste site, juntamente com todas as associações possíveis relacionadas com esta configuração específica.

Interpretante Dinâmico

É considerado como os possíveis significados produzidos pelo signo em relação ao objeto dinâmico e que são identificados pelos interpretantes, de acordo com o repertório individual.

O interpretante dinâmico são os significados em potencial veiculados pelo projeto específico de configuração deste site, que são suscitados na mente do usuário. É importante ressaltar o repertório específico do usuário, familiarizado com a "navegação" na Web e portanto com a forma de interação com o meio, como um conhecimento incorporado que inicialmente estabelece os deslocamentos dentro do site, mas que na verdade negocia as diversas atualizações que o signo possibilita.



2. ANÁLISE SEMIÓTICA

Para uma melhor avaliação do site nas análises que se seguem, adotou-se algumas páginas que compõem este site para inicialmente identificar as relações estruturais e formais entre os diferentes elementos da composição, sua materialidade, os códigos e as qualidades concretas entre si (Análise Sintática). Em seguida, as relações do signo com o seu objeto serão indicadas (Análise Semântica) para depois no domínio do simbólico (Análise Pragmática) trabalhar com as relações entre o signo, seu objeto e os significados para os usuários. O fluxograma apresentado no Anexo I indica a seqüência destas páginas visitadas com seus respectivos endereços eletrônicos.


2.1 ANÁLISE SINTÁTICA

2.1.1 Do suporte

O suporte desta obra é a estrutura de comunicação em redes, a Web, o Ciberespaço, que possui como mediador para atualização das suas informações o próprio computador e suas interfaces (monitor, modem, impressora, linguagens de programação), camadas técnicas sobrepostas aos computadores que vem transformando as relações usuário/informação/suporte tecnológico. A atualização das informações são limitadas fisicamente pelo display, pela tela do monitor do computador e a sua definição é o resultado direto da relação entre o número de "pixel" e a quantidade de cores escolhidas para a visualização.

2.1.2 Da composição

A composição é gerada pela aplicação de linguagens de programação (HTML e JAVA SCRIPT) e podemos dizer que definem dois níveis de composição: a composição estática, que se refere ao posicionamento dos elementos relacionados à composição gráfica das páginas, e a composição dinâmica, que trata das possibilidades de deslocamentos na mesma página e entre as páginas, a própria navegação. Na composição estática os elementos visuais, que compõem as páginas e que estabelecem as configurações são linhas, planos, formas, texturas e tipologia que interagem segundo relações de cor, dimensão, posição e movimento (sobreposição, permutação, rebatimento, repetição, justaposição).


2.1.3 Como Signo de Qualidade

Esta páginas Web se fundamentam na qualidade de imagens não verbais, que se valem de suas qualidades plásticas e dinâmicas para corporificar este signo. As qualidades estão associadas às idéias de movimento, fluxo contínuo, ruptura, multiplicidade, destruição e apagamento. Estes aspectos são comunicados pelo signo de forma polissêmica.


2.1.4 Como Singular (Sin-Signo)

Toda a obra de arte é um singular, independente de ter sido criada para ser reproduzida, seu fundamento não é mais a autenticidade, o ritual, a "aura" e sim outro, a política. (Walter Benjamin,1969)

Este signo se coloca como um sin-signo, por apresentar uma configuração estabelecida pelo autor de maneira singular, única. É interessante notar que a especificidade deste meio possibilita ao usuário novas relações de interação e leitura, criando a todo momento atualizações de singulares.

A maioria das imagens não apresentam forma figurativa e são bidimensionais; colocam-se como combinações entre elementos plásticos, tais como manchas, formas, linhas retas e curvas, áreas internas e externas, limites de planos de cor bem forte, e texturas, tudo em constante movimento; este movimento dos elementos visuais é obtido com a aplicação de linguagens de programação tais como GIFCON, JAVA SCRIPTS ou SCHOCKWAVE.

As imagens de fundo são criadas pelo programa de edição HTML segundo uma repetição lado a lado, tanto no sentido horizontal quanto no vertical, tantas vezes quantas forem necessárias para cobrir toda a extensão da página. Outros fatores técnicos considerados para esta insistente repetição são as dimensões do display e o tamanho da imagem, em bytes, o que está diretamente relacionado ao tempo de carregamento da página quando da transmissão dos dados para o usuário O espaço de representação é bidimensional e não obedece o sentido convencional de leitura, pois não há referências visuais rígidas que estabeleçam com precisão o percurso do olhar. O fluxo deste movimento estabelece uma possibilidade de composição dinâmica, que pode ser obtida pelo arrastar das barras de rolagem no sentido horizontal e/ou vertical, ampliando desta maneira o limite físico imposto pelo display do monitor. Este site apresenta outra forma de realizar este movimento, utilizando um recurso de linguagem JAVA SCRIPT, normalmente não encontrado em outros sites, o que faz a barra de rolagem se movimentar sem a interferência do usuário.

A possibilidade de novas configurações ganha ênfase com um recurso de programação em JAVA SCRIPT, que compõe a tela em várias outras janelas ou frames, podendo definir diferentes tamanhos e posições. Estes frames são elementos distintos e independentes no momento da navegação no site, isto é, podem conter individualmente um endereço eletrônico diferente e propor assim novas configurações, combinações, e imbricações das imagens ao se escolher um dos frames. Neste site os frames são dimensionados de forma não usual, por exemplo muito estreitos, e assumem posições diferentes do padrão normalmente utilizado (nas bordas das páginas), isto é, ocupando por exemplo faixas verticais no centro da página.

A simples navegação pela página ou pelo site amplia a possibilidade da composição dinâmica, ao considerar-se que a cada percurso estabelecido pelo usuário se forma uma diferente narrativa imagética. Torna-se então importante reconhecer que a navegação acontece não linearmente, mas existe um fluxograma estabelecido, uma estrutura interna que organiza em potência todas as configurações de distribuição dos nós a serem visitados. Este site possui um fluxograma determinado, onde pode ser identificado uma estrutura horizontal, quando as páginas contêm muitas informações no mesmo nível, isto é, a maior parte dos links acontecem em uma mesma página, e uma estrutura vertical, onde cada link se encontra em um nível diferente e pode-se pensar que o tempo de acesso às informações aumenta. A navegação de algumas páginas deste site, com a utilização de um recurso JAVA SCRIPT, acontece independente do usuário realizar uma escolha se o tempo de permanência na página for um pouco maior.

Quando se fala em Navegação Interna, na mesma página ou no Site, define-se uma forma de leitura, que acontece com as páginas dimensionadas para este formato, ou pela rolagem das barras e/ou troca das páginas através de determinados recursos para navegação. Neste site, estes recursos podem ser gráficos (botões, texto, formas geométricas), ou abstratos (pontos, linhas, texturas e planos de cor) ou mesmo áreas escolhidas das imagens (imagem mapeada), e são obtidos pela programação em linguagem HTML, transformando-os num link, ou canal de navegação e responsáveis portanto, pela condução do usuário na página, no site, ou na Web. O interessante é notar a posição e a forma como estes recursos são apresentados nas páginas, distribuídos de maneira incomum, às vezes muito pequenos ou então com a tela sensibilizada em toda a sua extensão, e consistindo de elementos gráficos desde pequenos traços, manchas até planos de cor ou texturas.

Esta obra convida o usuário insistentemente a um comportamento interrogativo, uma atitude exploratória, quando trabalha com os seus recursos de navegação de maneira não formal, sem referencial ou qualquer indicativo que sugira um novo percurso; reforça assim o procedimento eminentemente experimental na tentativa de buscar novos caminhos para a exploração do site, o que resulta em novas configurações e composições dos elementos. A compreensão de cada imagem não depende mais de uma seqüência linear, pode ser recomeçada em qualquer ponto de qualquer nível deste fluxograma.

2.1.5 Como Legi-signo

O jogo proposto por este site fala de si mesmo, como uma reflexão das relações entre os complexos sistemas informáticos e os usuários, e utiliza os próprios códigos. Segue abaixo alguns códigos visuais trabalhados como referência neste trabalho:

- a configuração icônica deste signo depende da linguagem de programação, o editor de HTML (Hypertext Markup Language) que interage com outras linguagens e programas (JAVA SCRIPT, GIFCON) mas atua como o código responsável pelo agenciamento das imagens e pela própria veiculação destas informações na Web.

- os códigos formadores, a linguagem de máquina e outras linguagens posteriores (linguagem C++, Visual Basic). Estes códigos são tratados como referências visuais, imagens, texturas sobrepostas que se somam mas deixam os rastros individuais como em um palimpsesto.

- referências ao código ASCI, que produz imagens por computadores utilizando símbolos gráficos, letras e números. · elementos que caracterizam a identidade visual do Macintosh: o marcador de tempo, a lixeira, arquivos e a forma das mensagens do computador quando algo acontece.

- elementos gráficos e imagens que caracterizam o mundo do "game" eletrônico, figuras estilizadas e bidimensionais com cores fortes: alvos, aviões, bombas.

- elementos visuais com referências de direção e espaço: setas, flechas, telas de radares, planta baixa com altitudes demarcadas e malhas topológicas.

- outros códigos presentes no mundo eletrônico: chips, código de cores, código de barras, o ruído/chuvisco presente na telecomunicação.

- referências visuais à pintura de artistas (Kenneth Noland, Ellsworth Kelly e Frank Stella) que formam a chamada corrente do "hard edge", uso das chamadas estruturas primárias, linhas, planos, corpos coloridos em várias dimensões, muitas vezes transitáveis e, portanto, fruíveis como ambientes.

2.1.6 Como Signo Icônico

A narrativa neste site é sustentada pela imagem. Uma imagem não descritiva, que obedece a uma ordem sintática e está apoiada em um repertório semântico, estabelecida pela composição dinâmica dos elementos visuais presentes e das próprias páginas, determinada pela especificidade do meio tecnológico.

A sintaxe da Web é obtida pelos recursos de programação da linguagem HTML, que se utiliza de características plásticas estabelecidas em outros suportes (cor, forma, posição, dimensão, entre outros) e introduz o movimento dos elementos gráficos, o dinamismo das diversas composições pelo uso de frames ou pelas barras de rolagem e a não linearidade, pela possibilidade de acesso ao fluxograma de qualquer nó e de percorrê-lo segundo a escolha do usuário.

Esta representação qualitativa, imersa na idéia da repetição e no ritmo imposto pelos usuários, cria relações com a intenção de recuperar as características físicas e o próprio conceito do objeto dinâmico. Este signo tem a preocupação de excitar na mente do usuário procedimentos análogos aos que o próprio meio tecnológico evoca, uma busca insistente pelo caminho, pela possibilidade de percurso que os leve a navegar pela Web. A utilização dos recursos para navegação, através dos links que ora abrem janelas/frames criando molduras, ora transportam para outras páginas, acabam por criar camadas que se sucedem mas que coexistem simultâneamente em potência.

A característica da narrativa não linear e interativa permite várias possibilidades de "histórias", de configurações, sem que se tenha começo-meio-fim, reorganizando espaços onde não é estruturado apenas um significado e que pode reunir várias "linguagens" para construir um objeto, onde uma imagem pode remeter a um texto, que pode remeter a um som, e assim por diante.

O conceito de desdobramentos, da relação da parte com o todo, constrói a imagem de forma fragmentada e recortada. Este conceito é vivenciado na medida em que as páginas vão sendo atualizadas pelo usuário, que percorre o seu caminho pelo site, sem ter noção e nem poder visualizar o todo. A característica de fragmentação das páginas Web em frames e/ou janelas, reforça este conceito e estabelece as relações com o meio tecnológico.

2.2 ANÁLISE SEMÂNTICA

Do ponto de vista semiótico pode-se constatar no signo em questão uma narrativa qualitativa, de formas icônicas que procuram expor, ao mesmo tempo que subvertem, os conceitos elaborados por este meio tecnológico, sua linguagem de programação específica, seus próprios códigos e suas possibilidades técnicas para construir e transmitir informações.

As imagens trabalhadas nestas páginas estão associadas à informações específicas do meio e que podem estar relacionadas aos procedimentos dos usuários e aos processos realizados pela máquina. É possível identificar formas visuais que representam arquivos, os endereços de sub-rotinas são denominadas com nomes de procedimentos usuais (cancel, load, clear, save, edit, cache, configure, entre outros), o ícone que representa a passagem do tempo no Macintosh (em alguns momentos o círculo que gira e em outros a "mãozinha"), latas de lixo para onde vai tudo que se "deleta", o elemento visual (um quadrado com um ponto de interrogação no interior e o canto direito superior cortado) que indica que a imagem não foi carregada, o símbolo da America on Line (a letra A e O).

A questão do vírus no computador é vivenciado com muita importância por todos os usuários da informática, não apenas os da Web, a ponto de existirem boatos de falsos vírus (como o Goodtimes). Todo este ambiente está referenciado neste site pelo uso do próprio nome de vírus em alguns links (alguns nomes reais: disk killer, keypress.1232.A, Word Macro Virus), nas imagens, nos textos como nos efeitos produzidos na interface informática e na comunicação, gerando panes (nada mais de movimento) ou "looping" (termo que significa um movimento em círculo sem saída), que incomodam a todos os usuários.

Outros elementos visuais apresentados como letras, números, fórmulas e símbolos matemáticos, fluxogramas, textos que contêm informações semânticas de linguagens de programação: de máquina, C++, Visual Basic (como texturas de imagens), que tratam a questão do virtual, do que está em potência neste meio tecnológico.

Referências indiciais de direção, localização e espaço são identificadas em algumas formas geométricas como a seta que representa a atuação do mouse, planta baixa com altitudes, as malhas topológicas que representam relevo e flechas apontando em vários sentidos. Estas noções são amplamente questionadas neste meio tecnológico das redes, quando as referências espaciais se transformam, passando dos eixos cartesianos para uma estrutura de malha onde os nós se associam sem controle rígido e o movimentar-se, os deslocamentos nesta estrutura, implicam na atualização das informações, que existem simultâneamente em potência.

Imagens gráficas com formas regulares e contínuas como a borda dos formulários de impressão de computadores e a película fílmica que aparecem na vertical das telas, trançando e se imbricando com outros elementos e com o fundo, acentuam a questão do movimento. Os códigos de barras, os cartões perfurados, os códigos de cores, as imagens associadas aos "games" eletrônicos e os gráficos com referência ao batimento cardíaco, trabalham como interfaces das informações entre o homem e a máquina, quer seja o computador, a televisão ou o equipamento médico.

A maioria das imagens se apresenta repetidas vezes e esta idéia da repetição, repetição acompanha todo o site e faz referências desde à produção da imagem, como produto de um código que faz deste procedimento a sua ordem formadora, ao comportamento operacional das linguagens de programação que estabelecem sub-rotinas, para procedimentos mais simples, que são reexecutadas quando necessário.



3. ANÁLISE PRAGMÁTICA

Neste nível de análise os significados associados à visualização e à navegação do site, dependem do repertório do usuário/interpretante. As imagens são trabalhadas em excesso com a questão da sobreposição, imbricação na composição das páginas, começando por definir significados na abordagem da Tecnologia como o produto de camadas sucessivas de conhecimentos, que viabilizam o sentido e o significado para o homem. Uma tecnologia que assume os novos conceitos impregnada e ancorada em alguns dados já estabelecidos e que propõe outros específicos do meio.

Na forma de utilização destas novas tecnologias na comunicação em redes de computadores é que este site vem colocar questionamentos. Esta proposta trabalha com os códigos, os procedimentos e os comportamentos desta mídia, ao mesmo tempo que assume a possibilidade de reverter, desorganizar os resultados e destruir os significados esperados.

O tratamento extremamente habilidoso destas páginas, que brincam com uma incursão não linear, hipertextual e interativa, específica desta mídia, permite uma exposição que envolve significados mais profundos quando trata o comportamento, a complexa relação humana com o virtual tecnológico. As imagens trabalham insistentemente com a expectativa do usuário, jogam, brincam, propõem uma busca frenética e incessante para determinar os links e estabelecer relações de sentido, mas terminam por destruir/apagar/"deletar" o que está "arquivado" como os conceitos de direção e de espaço. Estas relações de significado rompem com o esperado e são reforçados pelos processos de reconstrução e de veiculação de informações neste meio. O autor deste site trata constantemente com o que está estabelecido, ao utilizar-se de suas estruturas/fluxogramas e de seus códigos formadores que conduzem a um comportamento e associações esperadas pelo usuário, diante de seu repertório de navegação na Web. Reforça assim o conhecido, para no momento seguinte quebrar toda a expectativa, romper com as certezas, deixando o usuário cair, desabar, perder-se em sensações e sentimentos que desarmam as afirmações "pra onde se vai" e "de onde se vêm", trabalha com a imagem de labirinto.

O usuário procura sentido para as conexões realizadas, que não atuando como o conhecido, geram um desconforto pela desordem provocada e pelo inesperado. Associada à esta idéia de desconforto, o sentimento constante de medo dos vírus, das doenças, que conseguem danificar e apagar a memória das máquinas e a vida das pessoas. Uma ameaça permanente que dependendo da escolha de percurso do usuário chega ao fim, ao nada. O usuário fica em "pane" ou entra em "looping"! Este site configura "máquinas", que não trabalham como o esperado e rompem com a relação de significado e objeto. Produzindo uma sensação de imersão na tecnologia da comunicação em redes e trabalhando com a idéia de burlar o comportamento estabelecido utilizando os próprios códigos de produção e corrompendo a função estrutural e semântica das informações produzidas e veiculadas neste meio.

Na relação homem-máquina, existe a necessidade de interfaces para que se estabeleça a comunicação, para que uma informação reconhecida pela máquina torne-se legível ao homem e transmita assim um significado. Este ir e vir de códigos, como traduções sucessivas que se sobrepõem em níveis, trabalhados pelo repertório do interpretante, é representado neste site por imagens de texto que se transformam em códigos de barra, enquanto o código de cores da linguagem HTML traduz a cor vermelha para um número binário. Este site apresenta esta intertextualidade entre códigos, mas vem reverter esta situação, na medida em que produz ruídos, "chuviscos", interferências e não efetiva a comunicação, por não alcançar o sentido esperado.



4. CONCLUSÃO

Uma atitude criativa do autor, no exercício da liberdade com a linguagem e o meio, radicalizando e questionando a sua finalidade com consciência de linguagem. A mensagem torna-se auto-referente e revela a materialidade do seu suporte. É uma arte em si, na sua qualidade. (Julio Plaza,1986)

Este signo pode ser dito de Primeiridade, um signo icônico por apresentar uma narrativa imagética ancorada na sintaxe do próprio meio tecnológico. Como um ícone cria o seu objeto imediato, que experimenta as possibilidades de composição e de construção de mensagens na Web, mas ao mesmo tempo joga, brinca, rompe e desarticula as relações, as referências com o seu objeto dinâmico.

Portanto, em nível de Segundidade temos a representação do conflito gerado pela utilização das estruturas/fluxogramas, dos códigos formadores (como a linguagem de HTML, linguagem de máquina, C++ e outros) e dos códigos visuais que envolvem o mundo eletrônico na produção de mensagens, com o resultado de uma comunicação que não acontece, por não expressar o esperado.

Aí pode-se falar em nível de Terceiridade, quando os significados produzidos pela representação do objeto dinâmico rompem com a expectativa dos usuários/interpretantes, que não estabelecem sentido e significado para as conexões realizadas durante a navegação pelo site. Como esta relação do repertório do usuário com o próprio meio tecnológico, com a navegação pela Web e com o conhecimento das linguagens de programação e edição em HTML, determina a apreensão de sentido e amplia o entendimento dos recursos utilizados pelo autor, este signo torna-se predominantemente pragmático.




BIBLIOGRAFIA

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